domingo, 19 de maio de 2013

EM MONLEVADE TUDO PODE


Casa da mãe Joana

Márcio Passos

A Wikipédia, a enciclopédia livre da internet, nos ensina que casa-da-mãe-joana é uma expressão de língua portuguesa que significa o lugar ou situação onde vale tudo, sem ordem, onde predomina a confusão, a balburdia e a desorganização. Sua origem remota ao século XIV e quer dizer também que tal casa não possui janela nem porta, onde todos entram e saem sem pedir licença, imperando, portando, indisciplina e desrespeito, entre outros.
Confesso que é muito triste chegar à terceira idade depois de 55 anos residindo em João Monlevade e ver a cidade que adotei como minha terra se transformando na casa-da-mãe-joana. É duro e dói muito dizer isso, mas é a mais clara expressão da realidade que vemos no dia-a-dia.
Quer se transformar num comerciante no centro da cidade? Não precisa de alvará da Prefeitura, pagar impostos e se estabelecer legalmente. Basta escolher um ponto nobre das avenidas principais do centro da cidade, estacionar lá seu carro (pode até ser carrinho de mão), expor seus produtos à luz do sol e vender o que bem entender. A libertinagem é tão grande que nem pagar o estacionamento rotativo você vai precisar. Afinal, não é apenas um veículo que está estacionado ali, mas sim um empreendedor da economia informal. Bobo e faz papel de otário aquele que gasta uma nota para legalizar tudo, investe na montagem de um comércio, recolhe impostos e oferece empregos. Para os poderes públicos, entre um e outro não há diferença.
Quer construir uma casa ou um prédio? Entenda-se com o Crea porque a Prefeitura dificilmente vai exigir que você cumpra as leis. Código de obras? O que é isso? Precisa não. Pode fazer o que você bem entender. Sabe aquele projeto que a Prefeitura aprovou? Precisa cumprir ele não e se o telhado foi projetado virado para o sul, pode mudar para o norte que ninguém vai perceber. Os entulhos? Bota na rua. A garagem basculante? Deixa invadir o passeio para você ganhar espaço. A garagem do prédio projetada como exige a lei? Pode transformar em lojas porque a municipalidade não tem fiscal. A rampa de sua garagem ficou com muita inclinação? Invada o passeio e resolva seu problema. Aqui na casa-da-mãe-joana ninguém fiscaliza obras e cada um faz sua lei.
Aquele lote que você comprou para especulação imobiliária está tomado pelo mato? Não esquente a cabeça porque a cidade toda está assim. Gastar dinheiro para capinar lote com a cidade imunda? Porque você vai fazer isso se os ricaços da cidade, aqueles que são donos da maioria dos lotes vagos, não estão nem aí e ninguém da Prefeitura os perturba? Mosquito da dengue? Que isso cara, ele só aparece no terreno dos outros. Deixe seus imóveis atolados de mato porque na terra de ninguém eles valorizam ainda mais.
Você tem uma borracharia só para atender caminhões e não tem espaço para atendê-los? Fácil. Compre dois ou três cones e feche a metade da pista de rolamento da principal avenida da cidade para seu negócio render mais. Pode ficar tranquilo que ninguém do Settran vai incomodar você e, se precisar, talvez até liberem um guarda para ajudar você a desviar o trânsito. Aqui é como dizia o Cafunga: o errado é que está certo.
Precisa deixar o caminhão bi-trem no centro o dia todo? Fique à vontade e escolha o lugar que melhor lhe convier. Se preciso, faça como aquele motorista que tirou a cabine e deixou a carroceria no início da avenida Wilson Alvarenga no início da semana. O trânsito virou um engarrafamento só, mas ninguém incomodou o motorista. É que aqui, cada um faz a sua lei no trânsito.
Poderia citar inúmeros outros exemplos, mas o espaço acabou. E o lixo? Uai, na casa-da-mãe-joana você bota onde quiser.

Obs: Texto: Márcio Passos(Jornal A Notícia)
 

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